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O Tema de hoje é A PERFEIÇÃO MORAL
O objetivo deste estudo é refletirmos sobre o grau de perfectibilidade que somos capazes de alcançar nesta encarnação. Para tanto, veremos a questão dos vícios e das virtudes, o conhecimento de si mesmo e os caracteres do homem de bem.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O Espírito, quando é criado por Deus, traz em seu bojo o
germe (potência) da perfeição. Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, ao
estudar a Lei do Progresso — lei natural —, informa-nos de que todos os
Espíritos, conscientes ou inconscientes, encarnados ou desencarnados, tendem
para a perfeição.
Assim, todo o esclarecimento emanado de alguém, no sentido de
estimular o nosso relacionamento em sociedade, deve ser sempre bem recebido,
pois é através do contato com os outros seres humanos que temos condições de
colocar em prática o conteúdo moral da Lei Divina.
No capítulo que trata da Lei de Sociedade, Kardec diz-nos que
no isolamento absoluto o homem embrutece-se e se estiola.
Diante dessas orientações, todo o esforço despendido em prol
do bem é um manancial que nos fortifica para toda a eternidade.
Por isso, a assertiva do Cristo: "Sede perfeitos como vosso
Pai celestial é perfeito", deve permanecer como uma idéia central para este
tema.
HERANÇA E AUTOMATISMO
VIRTUDES E VÍCIOS
A VIRTUDE É MÉDIA JUSTA
Virtudes são todos os hábitos constantes que levam o
homem para o bem, quer como indivíduo, quer como espécie, quer pessoalmente,
quer coletivamente.
A virtude é uma disposição adquirida voluntária, que consiste
na conduta racional de um homem ponderado. Ela ocupa, segundo Aristóteles, a
média entre duas extremidades, uma por excesso, a outra por falta. Ela se situa
no ponto mais elevado no que se refere ao bem e à perfeição.
Na teoria da utilidade marginal decrescente, o excesso de um
bem transforma-se no seu oposto. Daí, diz-se que todo o excesso é prejudicial,
tanto para o bem como para o mal. Exemplo: o excesso de orgulho transforma-se em
humildade; o excesso de humildade transforma-se em orgulho. É dentro deste
contexto que Aristóteles fala que devemos sempre percorrer o caminho do meio, do
meio termo.
As virtudes apresentam-se como virtudes cardeais (adquiridas)
– prudência, fortaleza, temperança e justiça e como virtudes teologais
(dons infusos por Deus) – fé, esperança e caridade.
O VÍCIO É A AUSÊNCIA DA VIRTUDE
Os vícios são as ações que tendem para mal; as virtudes são
ações que tendem para o bem. No estado atual de nossa evolução moral, parece que
ainda precisamos do mal para melhor conhecer o bem. É preciso que haja uma
desgraça pública para nos estimular a caridade para com o próximo. Não a
entronizamos ainda dentro dos nossos corações.
Além do mais, em nossa ilusão, costumamos disfarçar o mal ao
máximo, para que não se torne muito evidente. Nesse sentido, à gula damos
o nome de necessidade proteínica; à lascívia chamamos necessidade
fisiológica; a ira é embelezada com a expressão paradoxal: "cólera
sagrada"; a cobiça é encoberta com a desculpa da previdência; a
preguiça disfarçamos com a necessidade de repouso, quando não com a
esperteza que faz os outros produzirem por nós.
RECOMPENSA E CASTIGO
Toda a ação boa, sendo coerente consigo mesma, traz um
bem-estar, uma felicidade. Toda a ação má, ao contrário, gera um conflito e, por
conseguinte, um mal-estar. Ela tem como conseqüência um castigo.
Muitas vezes, a coerência e a incoerência não são vistas de
imediato, senão ao longo de muito tempo. Um exemplo é o vício do fumo. Suponha
que tenhamos fumado por 20 anos, quando estávamos na flor da idade. Não
sentíamos e não sofríamos as suas conseqüências. Mas, passados todos esses anos,
os efeitos da nicotina e de outros poluentes começam a nos trazer problemas
cardíacos e pulmonares, levando muitos seres humanos ao desencarne prematuro.
O CONHECIMENTO DE SI MESMO
A MAIÊUTICA SOCRÁTICA
Sócrates, filósofo grego da antiguidade, ao criar o método da
introspecção, propôs-nos um exercício salutar para o conhecimento de nós mesmos.
Disse-nos que o homem deve voltar-se para si a fim de tomar consciência de sua
própria ignorância. Utilizava, para isso, a ironia e a maiêutica. Na ironia
procurava confundir o interlocutor a respeito do conhecimento que ele
pressupunha ter sobre um objeto qualquer; na maiêutica, que em grego quer
dizer vir à luz, fazia brotar um novo conhecimento, mais fecundo e mais
produtivo.
O princípio inteligente estagiando no reino mineral adquiriu
a atração; no reino vegetal, a sensação; no reino animal, o instinto; no reino
hominal, o livre-arbítrio, o pensamento contínuo e a razão. Hoje, somos o
resultado de toda essa herança cultural.
Nosso passado histórico propiciou-nos a automatização de
hábitos e atitudes. É nossa herança, que começa desde o reino mineral. Há
hábitos positivos e negativos. Os positivos devem ser incrementados; os
negativos, extirpados. A função da reforma íntima, no seu sentido amplo, é
melhorar o reflexo condicionado, arquitetado pelo nosso Espírito.
A lei do progresso exige que o princípio inteligente vá-se
despojando dos liames da matéria. Para que tenhamos um olhar crítico, devemos
libertar-nos da obscuridade da matéria, consubstanciada no egoísmo, no orgulho e
no interesse próprio. (Xavier, 1977, p. 39)
COMO CONHECER-SE
De acordo com Peres, no capítulo I do seu Manual Prático
do Espírita, podemos nos conhecer:
a) pela dor. A dor é teleológica e leva consigo um
destino. Por ela podemos saber o que fomos e, também, o que tencionamos ser. Ela
é sempre positiva; no sofrimento, estamos purgando algo ou preparando-nos para o
futuro.
b) convívio com o próximo. Podemos avaliar-nos,
observando as reações dos outros com relação às nossas atitudes.
c) auto-análise. A auto-análise fundamenta-se numa
cosmovisão transcendental da vida. A compreensão integral do homem se apoia em
três esteios fundamentais: filosófico: paz com a verdade; o
psicológico: paz consigo mesmo; religioso: paz com o ser
transcendental.
São técnicas que permitem o homem chegar a autenticidade de
sua doença, não de tirar o homem da doença.
As questões 919 e 919A de O Livro dos Espíritos
auxiliam-nos a praticá-la. Santo Agostinho sugere que todas as noites devíamos
revisar o dia para ver como fomos em pensamentos, palavras e atos.
CARACTERES DO HOMEM DE BEM
O verdadeiro homem de bem é aquele que:
a) Pratica a lei de justiça, de amor e de caridade em sua
maior pureza.
b) Tem fé em Deus, submetendo-se a sua vontade à Dele.
c) Tem fé no futuro; por isso, coloca os bens espirituais
acima dos bens temporais.
d) Sabe que todas as vicissitudes da vida são provas ou
expiações, e as aceita sem murmurar.
e) Possuído pelo sentimento de caridade, faz o bem pelo bem,
sem esperança de recompensa, e sacrifica o seu interesse pela justiça.
f) É bom para com todos, porque vê irmãos em todos os homens,
sem exceção de raças ou de crenças.
g) Em todas as circunstancias, a caridade é o seu guia.
h) Não tem ódio, nem rancor, nem desejo de vingança.
i) É indulgente para com as fraquezas alheias, porque sabe
que ele mesmo tem necessidade de indulgência.
j) Não se compraz em procurar os defeitos alheios, nem em
colocá-los em evidência.
k) Estuda as suas próprias imperfeições e trabalha, sem
cessar, em combatê-las.
l) Aproveita sempre as ocasiões para ressaltar as qualidades
dos outros, e não as suas.
m) Se Deus lhe deu o poder e a riqueza, olha essas coisas
como um depósito do qual deve usar para o bem, e disso não se envaidece porque
sabe que Deus, que lhos deu, também poderá retirá-los.
n) Se a ordem social colocou homens sob sua dependência, ele
os trata com bondade e benevolência, porque são seus iguais perante Deus; usa de
sua autoridade para erguer-lhes o moral e não para esmagar com o seu orgulho;
evita tudo o que poderia tornar a sua posição subalterna mais penosa. (Kardec,
1984, cap. XVII, item 3)
CONCLUSÃO
Voltemo-nos para dentro de nós mesmos. Esta atitude, sendo
constante, auxiliar-nos-á sobremaneira, a atingir a perfeição relativa de que
somos capazes. Tomando consciência de nossa ignorância, como nos ensinou
Sócrates, confiaremos mais em nossos valores, o que nos propiciará um
relacionamento mais saudável com os outros membros da sociedade.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
PERES, N. P. Manual Prático do Espírita. São Paulo: Pensamento, 1984.
KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed. São Paulo: IDE, 1984.
KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed. São Paulo: Feesp, 1995.
XAVIER, F. C. e VIEIRA, W. Evolução em Dois Mundos, pelo Espírito André Luiz, 4. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1977.